O êxito escolar depende da família

terça-feira, 14 de junho de 2011

“O meu filho passou nos exames, é um aluno fenomenal! O meu filho reprovou, o professor é um incompetente!” Estas são atitudes típicas de um fim de Julho: endossar a responsabilidade do fracasso escolar à escola, aos professores e aos programas, ou massacrar o filho-aluno pela sua negligência ou desinteresse, é uma maneira fácil de arranjar desculpas e fechar os olhos a outras realidades.
Atribuir toda a culpa aos pais também seria injusto. Devem dividir-se as responsabilidades no insucesso e nos méritos em caso de êxito. Mas limitemo-nos às condições familiares do êxito escolar.

Causas de reprovação
O ritmo endiabrado em que vivem algumas famílias, chega para explicar o insucesso escolar de muitos filhos. “As crianças recuperam segunda-feira no colégio!”. O mesmo acontece no dia a seguir à transmissão de certos programas de cariz mais popular. Esta é uma constatação indesmentida de muitos professores.
Se se quiser que as crianças trabalhem na escola, têm que estar descansadas: as horas do sono antes da meia-noite contam a dobrar; nos fins de semana, o ar puro, é mais relaxante do que as desesperantes viagens no assento traseiro de um carro, o jogo é muito mais são do que a televisão. Como é que alguns miúdos, que vêem mil horas de televisão por ano. vão dar atenção aos problemas , às equações, ou a conjugação dos verbos? Que criança diariamente confrontada com cenas de violência, de sangue de assaltos e roubos, pode interessar-se pela poesia, pela música, pela pintura pela cultura?!

A estabilidade familiar
O ritmo de vida cada vez mais agitado e trepidante dos pais, pode destruir o frágil equilíbrio nervoso das crianças e comprometer o seu futuro escolar. Isto é, sem dúvida, uma das causas do crescente fracasso na escola.
Mas para além destas, existem outras causas mais profundas e perigosas, como a instabilidade familiar e a insegurança da criança. Viver em segurança, numa atmosfera serena, é algo capital, tanto para esta como para os adolescentes. Isto supõe viver numa família estável e coerente: constância das pessoas, das situações, da presença e da serenidade dos pais. O sentimento de segurança na criança não deriva, como no adulto, da situação económica da família, mas da harmonia que reina entre os seus pais, do amor que os une e da estabilidade do lar. Casos há de filhos ricos que vivem inseguros, e filhos de pais desempregados que gozam de uma perfeita serenidade.
Se os pais brigam e se separam um do outro, o equilíbrio da criança acabará por sofrer. Pensará que já não o amam, que não precisam dele e que não conta para nada. “Ah, se não fossem os filhos!”, eis o grito de tantos momentos. Com ele se cria, então, um sentimento paralisante, de inutilidade e complexo de inferioridade: a criança perde todo o atractivo pelo trabalho escolar e não é capaz de fazer o menor esforço. Surge também um sentimento de culpabilidade: “sou um incómodo”. Por fim, os pais ficam assombrados com o baixo rendimento escolar dos filhos.

Nota negativa aos pais
Todos os professores têm exemplos de bons alunos, às vezes os melhores, que de um momento para o outro se negam a trabalhar. Para serem bons pais, é necessário começar por serem bons esposos. O amor conjugal é a base da educação. Pais desunidos, mesmo que continuem juntos por respeito social ou “pelo bem dos filhos”, criam alunos com problemas.
Para além de necessária, a estabilidade do lar não é uma condição suficiente. A criança e o adolescente devem ser valorizados. Senti-lo-ão quando surgirem os imponderáveis e “saboreá-lo-ão na sopa”. Ser valorizado significa, antes de mais, ser aceite, tal como um filho o é, com todas as debilidades e defeitos. Têm de notar que os seus pais se sentem felizes com a sua presença, que lhes dedicam tempo, que não são mais um parasita em casa, que lhes dão responsabilidades, que são úteis. E também presenciar a alegria e o júbilo pelos seus êxitos e esforços. “Faço feliz o meu pai, o que quer dizer que aos seus olhos sou importante, que tenho valor. Procurarei triunfar em tudo o que empreender. Sou forte”.
Pelo contrário, se a criança não tem êxito nas relações com os seus progenitores, não triunfará na vida e isso logo virá ao de cima. na escola. O sentimento de inutilidade amputa braços e pernas perante as tarefas escolares. “Não conto, não valho nada, não passarei na escola, para quê tentar?” Perante este complexo de derrota, o professor fica indefeso. A causa não está na criança mas na sua família.

O “menino-rei”

Mas, se bem que seja importante valorizar a criança, não convém protegê-la em excesso. Não se deve fazer por ela aquilo que pode fazer sozinha. “O menino rei”, a quem se evitam as mínimas dificuldades, a quem se satisfazem todos os desejos e tudo consegue, graças ao poder dos seus pais, não atingirá nunca a autonomia. Se lhe apertam os sapatos, se lhe levam a pasta, está alguém ao seu lado. É um menino mimado no sentido pleno da palavra. Cresce num mundo dourado, onde todos os problemas se lhe resolvem, evitando qualquer oportunidade de pensar, onde se removem todos os obstáculos e as oportunidades de crescer, onde nunca se diz “não”, eliminando todas as possibilidades de frustração, que têm algo de positivo.
Quando entrar num universo menos artificial, onde dependerá apenas de si próprio, sobretudo no ensino secundário, sentir-se-á perdido e impotente, abandonará a luta e gritará por socorro, tão depressa se solicite a sua iniciativa, a sua reflexão pessoal, ou a sua investigação. Taciturno, conformista, dependente, sonhador e medroso, a este aluno vai-lhe custar estabelecer contacto com os companheiros, porque tem dificuldades de comunicação e padece de um complexo de inferioridade. É um aluno problemático que encara mal o obstáculo que pode ser o estudo. Às vezes pode curar-se, mas o mal é quase sempre profundo e vai acompanhá-lo pela vida fora.
Como se vê, o êxito escolar depende muito do contexto familiar: é preciso mandar à escola crianças com boa saúde física, afectiva e mental, queridas, aceites, valorizadas e protegidas. A preparação escolar começa no berço.

Os valores: Resgatando o que nos torna humanos

Vivemos em uma era violenta; sofremos violências cada vez maiores e com mais constância; assistimos quotidianamente manifestações de violência... a violência entra em nossas casas, muda nossa vida, nossos valores, nossas famílias, nossos comportamentos.
A violência é um sinal, um sintoma de uma sociedade que não criou apreço pelos valores e acabou formando adultos sem referenciais de cidadania e de respeito pelo próximo. A violência é a marca de uma sociedade excludente (que exclui em todos os sentidos, até afetivos).
A solução, a longo prazo , desses problemas exigem uma verdadeira revolução na maneira de educar nossas crianças.
Muito mais importante do que favorecer uma avalanche de conhecimentos e informações às nossas crianças é o fato de nós os formarmos enquanto pessoas humanas, incentivando-os a darem o melhor de si.
Devemos juntos, educadores, pais e responsáveis, tomar essa atitude diante de nossas crianças, tornando isso nossa missão: colaborarmos para a formação humana integral de nossos pequenos!
E como fazemos isso?
Há muitos pesquisadores, de variadas áreas de conhecimento, que vêm pensando no humano na atualidade. Existe um educador que há décadas vem tocando a melodia do resgate dos valores humanos básicos, a saber: A VERDADE, A RETIDÃO, A PAZ, O AMOR, A NÃO-VIOLÊNCIA . Ele se chama Sathia Sai Baba e é indiano (MESQUITA, 2003).
Ele propõe que estimulemos esses valores em nossas crianças. Ele afirma, e nós dia a dia comprovamos isso, que à medida que a criança for utilizando a intensa capacidade amorosa que existe dentro dela, germinarão os valores humanos em seu coração, o que se refletirá no comportamento familiar, social e profissional. Independentemente de dificuldades, sofrimentos e decepções que, como todo ser humano, ela encontrar em sua trajetória sobre a Terra, será feliz. Porque felicidade, afinal, não é estar radiante de alegria e de bom humor diariamente, mas permanecer em harmonia com sua natureza humana. As leis da natureza humana só serão cumpridas quando conseguirmos ser leais à verdade, o que nos levará à retidão, à qual nos proporcionará a paz. Estando em paz, torna-se possível para nós viver e entender o verdadeiro amor incondicional. Com esses valores aflorados, somos capazes de praticar a não-violência, que é a abstenção de ferir o outro pelo pensamento, palavra ou ação. Quanto antes começarmos, melhor e mais fácil.
Estamos educando nossas crianças?

Vamos agora atentar para nossa história enquanto civilização: o que vemos? Vemos que o homem, principalmente no último século, concentrou-se muito no desenvolvimento da ciência e tecnologia, o que sem dúvida melhorou nossas condições materiais de vida. Porém, visando o conforto exterior, o ser humano foi deixando de lado seu plano interior, esquecendo-se que é corpo, mente e espírito (MORAES,2003).
Esse enfoque tecnicista fragmentou a educação, priorizando o acúmulo de conhecimento, a competição acirrada, o que provocou uma desestruturação do ser humano que, por sua vez, se reflete na realidade violenta de nossa sociedade. Estamos em meio a uma perigosa crise de valores.
E assim vamos abrindo caminho para a violência que, sorrateira, nos espreita. Muitos são os flagrantes de intolerância, frieza, transgressão da ética e moral. Nossos pequenos estão perdidos porque muitos de nós, adultos, também perdemos o rumo, sem saber para onde ir no rumo da vida. É como se a tênue linha divisória entre o bem e o mal, entre o certo e o errado estivesse se apagando.
Então culpamos o stress do cotidiano, a má influência da mídia, as más companhias, drogas, pobreza, imoralidade... É claro que tudo isso contribui para o quadro atual. Mas por que, por exemplo, nossos jovens estão infelizes, buscando auto-realização no limite, no extremo e perigoso, no comportamento desregrado? Por que nossas crianças têm apresentado comportamentos com os quais não sabemos lidar, cada vez mais rotulados como hiperatividade, déficit de atenção, depressão, transtorno de separação na infância, ansiedade infantil, sendo essas crianças medicadas cada vez mais prematuramente?
Isso tudo é sinal de que nós, adultos, estamos falhando em algum lugar na formação adequada do caráter deles.
Quando questionamos estas coisas, devemos compreender que o comportamento de nossos pequenos é um reflexo da formação recebida em casa e na escola, da falta de respeito pelo outro, do desconhecimento de limites, da ausência de disciplina e da inversão de valores presente em nossa sociedade que gera desestruturação em nossos lares e com a qual acabamos por nos habituar.
Se a educação que fornecemos às nossas crianças enfatiza o desenvolvimento intelectual sem preocupar-se com o cultivo das qualidades humanas, os meios de comunicação levam os indivíduos a modos padronizados de pensar, de agir, de consumir. Um grande domínio é assim exercido sobre nós, pequenos e grandes, e então paramos de questionar! (MOWEN, 2003).
E é por ser mesmo essa situação tão grave que os pais devem reassumir sua posição de educadores e conjugar forças com a escola.
O que é educar?

Podemos dizer que educar é fazer com que nossos pequenos entendam que o certo é sempre o certo, mesmo que poucos o façam, e o errado é sempre errado, mesmo que muitos o façam.
Pois não existe criança boa ou má, nem inteligente ou tola. Cabe a nós tocarmos seus corações para estimular seu desenvolvimento.
Devemos nos tornar facilitadores para as nossas crianças, possibilitando que elas exteriorizem suas habilidades e assim possamos ir, com elas, trilhando o caminho do bem. Precisamos, para isso, querer que além da matemática, do português ou qualquer outro tema acadêmico, nossas crianças aprendam a necessidade de aproximação, de afeto e confiança, e isso elas só podem aprender conosco. O exemplo é o melhor ensinamento: devemos pois ensinar aos nossos pequenos o que é e como nos tornamos SERES HUMANOS, na plenitude, na inteireza da palavra (NAOURI, 2004).
Iniciando um processo de transformação

Tudo inicia com o pensamento, não é mesmo? E é por meio dele que devemos iniciar a transformação. Nossa vida é resultado do que pensamos e do modo como pensamos, individual e coletivamente. É por isso que, para melhorarmos nossa realidade, devemos alterar positivamente nossa maneira de pensar e, consequentemente, de agir. E isso é importante no nosso dia a dia com nossas crianças: linguagens e atitudes que despertem inferioridade, baixa auto-estima, insegurança, agressividade, desrespeito as regras e ao próximo... tudo isso sabota a capacidade deles de terem uma vida estruturada, harmoniosa, de sucesso, feliz.
Se educar, uma das tarefas de todo adulto frente a uma criança, é apresentar exemplos, devemos resgatar nossos valores humanos, deixando aflorar nossos melhores sentimentos (MILLOT, 1987).
Para resolver os problemas do mundo, precisamos reconstruir o indivíduo, pois a situação externa de uma nação reflete a situação interna de cada um de nós. Não se pode construir uma sociedade justa se não houver homens e mulheres, crianças, idosos, justos.
Para terminar

Educar deriva do latim educare que significa revelar o que está dentro, ajudar no surgimento das habilidades e potencialidades, dos dons de cada pessoa. Cada ser humano, junto com o conhecimento das ciências, deve também adquirir humildade, disciplina e bom caráter, ou seja, deve saber e ser. Deve ter consciência de si, do outro, do nós e de que tudo que existe está inter-relacionado (TIBA, I. 2002).
Nossos pequenos só serão educados se nós os educarmos e, mais do que isso, se nós nos educarmos, nos deixarmos educar nos valores humanos da:
  • VERDADE, ENQUANTO AQUILO QUE DEVE SER DITO;
  • RETIDÃO, ENQUANTO AQUILO QUE DEVE SER PRATICADO;
  • PAZ, ENQUANTO AQUILO QUE DEVE PREENCHER NOSSA MENTE;
  • AMOR, ENQUANTO AQUILO QUE DEVE SE EXPANDIR DENTRO DE NÓS;
  • NÃO-VIOLÊNCIA, ENQUANTO AQUILO QUE DEVEMOS SER PLENAMENTE...
...E isso está totalmente em consonância com um anseio humano e cristão profundo: a PAZ. Se tivermos essa prática de educação calcada nestes valores fundamentais gravada em nós e a exercitarmos, estaremos sendo felizes e promovendo a felicidade dos que nos cercam, já que estaremos sendo fiéis ao que Jesus nos aponta no Sermão da Montanha: Bem-aventurados (felizes) aqueles que promovem a paz (Mt 5,9). Sim, somos todos e todas, filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs!!!

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É da máxima importância reconhecer e estimular todas as variadas inteligências humanas e todas as combinações de inteligências. Nós somos todos tão diferentes, em grande parte, porque possuímos diferentes combinações de inteligências. Se reconhecermos isso, penso que teremos pelo menos uma chance melhor de lidar adequadamente com os muitos problemas que enfrentamos neste mundo. Howard Gardner (1987)

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